Bispo do Algarve desejou que Jesus venha “iluminar trevas mais densas que se abatem sobre o mundo”

O Bispo do Algarve desejou que Jesus venha “iluminar aquelas trevas mais densas, mais profundas, que se abatem sobre o mundo de hoje”.
Na homilia que proferiu na Missa de Natal, a que presidiu em Faro na catedral algarvia, D. Manuel Quintas referiu-se concretamente a “situações que resistem em se abrir à luz de Belém, caraterizadas por densas trevas: guerras devastadoras, situação deplorável em que vivem muitos migrantes, exclusão social, banalização da vida humana”.
“Prosseguem as guerras que continuam a ceifar vidas inocentes, a destruir povos, a gerar um número crescente de migrantes, que fogem de conflitos intermináveis ou simplesmente para procurar um futuro melhor para si e para as suas famílias; deparamo-nos igualmente com situações de exclusão social, com a marginalização dos mais frágeis, dos pobres, dos idosos, apoiada em muros culturais ou mesmo legais, que dificultam o acolhimento humano, o apoio necessário e a integração justa e devida; assistimos também à banalização do mal presente em diversas formas de violência (doméstica, homicida), consequência de uma indiferença generalizada e insensível pela vida humana e pela dignidade do outro. É esta nossa realidade que o Príncipe da Paz continua a encontrar, hoje, e que assume pessoalmente ao assumir a nossa humanidade, para a transformar”, prosseguiu o bispo diocesano.
Evidenciando que “as guerras são sempre fruto da soberba e da prepotência humana”, D. Manuel Quintas citou o Papa Leão XIV na sua homilia da Missa de ontem à noite para lembrar que “enquanto o homem quer tornar-se deus para dominar o próximo, Deus quer tornar-se homem para o libertar de toda a escravidão”. “O Verbo continua a encarnar nesta nossa humanidade ferida. Ele vem como Emanuel, como Deus connosco, como Jesus, Salvador. Ele está verdadeiramente no meio de nós e em nós. E porque está connosco, a esperança não é uma ilusão, mas uma certeza. A paz não pode reduzir-se a um slogan ou a um bom desejo, mas constitui uma missão para todos os que O acolhemos e acreditamos n’Ele”, afirmou.
D. Manuel Quintas disse ainda que “Ele continua a vir habitar num mundo real de pobreza, de frio, de um recenseamento imperial que obrigava as pessoas a percorrerem grandes distâncias, mesmo em condições precárias, de um poder político que não O acolheu e até procurou eliminá-l’O”. “Nasceu nas periferias de Belém numa situação de precariedade. Os primeiros a acolhê-lo foram migrantes (magos vindos de longe) e pastores, que habitualmente viviam à margem da sociedade. Ele próprio assumiu a condição de migrante na fuga para o Egito”, desenvolveu.
“Neste tempo, algo dominado pelo desencanto, em que tudo parece sucumbir, deixemos que a celebração do Natal nos devolva, bem como a toda a humanidade o sonho, a maravilha e a esperança”, pediu o bispo do Algarve, apelando a que cada um leve consigo “a luz que hoje brilha” no seu coração. “Que a nossa vida seja um testemunho de que é possível outra realidade, de que é possível construir outro mundo: uma realidade onde nenhuma vida é descartável, onde toda a pessoa é acolhida como irmão, ou irmã, é acolhida como se fosse o próprio Jesus a bater à nossa porta”, concluiu D. Manuel Quintas, que presidiu à meia noite à Missa da Noite de Natal, popularmente conhecida como Missa do Galo, naquela Sé.
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