Um livro esclarecedor

Um livro esclarecedor

No próximo ano celebra-se o centenário de dois acontecimentos bem diferentes, influíram e influem no mundo: as aparições de Fátima e a revolução comunista na Rússia. A eles se refere José Milhazes no livro «A Mensagem de Fátima na Rússia».
Tendo ambos ocorrido, escreve, nos dois lados opostos do Continente Europeu, rapidamente se transformaram em fenómenos universais, pois as mensagens ideológicas que traziam dentro de si rapidamente se alastraram aos cantos mais remotos do planeta. Acontecimentos situados em pólos ideológicos e filosóficos contrários deram origem a forças que acabaram por se cruzar e se envolver num combate de vida pu morte no turbilhão que constitui o século XX.
A Rússia faz parte da mensagem de Fátima. Nossa Senhora pediu a sua consagração ao Imaculado Coração de Maria.
O impacto das aparições de Fátima na Rússia é o tema central deste livro, onde se lembra que «ditaduras comunistas mergulharam a URSS e, depois, quase metade da Europa, parte significativa da Ásia, da África e América Latina em banhos de sangue e em perseguições religiosas e políticas».
José Milhazes começa por se referir ao distanciamento entre duas igrejas cristãs a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa, separadas desde 1054, e às tentativas de cooperação entre ambas. O encontro do Papa Francisco com o Patriarca Ortodoxo de Moscovo e de Toda a Rússia, Kirill I, realizado em Havana em 12 de fevereiro, terá sido o começo de uma maior aproximação?
Tempos houve em que, na Rússia, ter em casa livros sobre as aparições na Cova da Iria podia levar à prisão. A propaganda ateísta tentava fazer chegar aos cidadãos soviéticos de que as aparições de Fátima não passavam de uma manobra política para enganar o povo português. Só desde que, em dezembro de 1991, o império soviético ruíu o culto de Fátima passou a ser legal na Rússia e nos outros países que nasceram das ruínas da URSS.
O capítulo III é um inúmerar de factos demonstrativos de como «em toda a História da Humanidade, a Rússia foi palco da maior e mais sistemática tentativa de por fim à religião enquanto fenómeno social. O regime comunista, que governou esse país entre novembro de 1917 e dezembro de 1991, levando à letra uma das máximas de Karl Marx de que “a religião é o ópio do povo”, declarou o ateísmo como ideologia oficial, sendo o anticlericalismo uma das componentes mais importantes nessa campanha». Esta dedicava particular atenção às crianças e aos jovens, através das organizações comunistas dos Pioneiros e Komsomol.
Um dos mais magníficos mosteiros foi transformado no primeiro campo de concentração soviético, dando início ao que mais tarde se tornou conhecido por GULAG. Por lá passaram cerca de 30 milhões de pessoas, tendo morrido segundo estatísticas oficiais, mais de um milhão e meio de prisioneiros.
Iniciada por Vladimir Lenine (Olianov) a campanhã persecutória, que se prolongou mais de 70 anos, teve continuadores em José Estaline, Nikita Khrutchov, Leonide Brejnev. O capítulo IV do livro narra a chegada do catolicismo à Rússia e as suas relações nem sempre pacíficas com o Czar. Mas, o pior aconteceu depois da tomada do poder pelos comunistas. O Catolicismo foi atingido pela mesma vaga que abalou duramente todas as confissões religiosas existentes no país: Ortodoxia, Islão, Judaísmo, Budismo e Protestantismo. Refere-se depois à influência exercida por João Paulo II e à consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, feita secretamente no Kremlin de Moscovo.
Salienta, no capítulo seguinte, a devoção dos russos ao ícone da Mãe de Deus de Kazan, cuja interceção consideram ter-lhes valido em momentos dramáticos da sua história e que chegou a estar em Fátima.

Sílvio Araújo, in Diário do Minho